O mundo não é estático, os homens também não, pesem os temores que possam ter, em função da força bélica de quem, a dado momento, detém a totalidade do poder político. A guerra estalou e, desta vez, de forma irreversível, entre o Presidente da República, João Lourenço, com a sua hercúlea coragem, reconheça-se, e o clã Dos Santos pese este ser, ainda, decorativamente, presidente emérito do MPLA, com o arresto, seguido do dossier volumoso de denúncias do Luanda Leaks.
Por William Tonet
Pelo atrelado de denúncias e responsabilização contra a filha primogénita de Eduardo dos Santos, mesmo considerando a falta de confirmação e cruzamento de dados para aferimento da veracidade documental, não deixa de ser grave e preocupante, logo bem poderia chamar-se Isabel Leaks.
Angola pela positiva e negativa está na boca do mundo.
Por um lado, Isabel dos Santos é considerada a maior ladra, com ajuda do pai. Por outro, o MPLA é um partido do mal, dirigido como uma organização criminosa, cujos líderes e dirigentes se apossam, ilicitamente do património público.
Não bastasse tudo isso, o palco que elegem, quer para esconder o dinheiro locupletado ao país (bancos estrangeiros), como para as ofensas entre si é, para tristeza colectiva, o estrangeiro.
Quem se diverte à brava são os europeus ocidentais e americanos, que ridicularizam os actores destes papéis como seres menores e complexados. Basta ler e ouvir os relatos diários da comunicação social ocidental. Uma tristeza.
Podiam os angolanos, em sinal de maturidade, resolver a contenda no interior das suas fronteiras, mas nessa incapacidade, levantaram o véu de terem sido governantes e responsáveis angolanos a facilitar, financiar e entregar dossiers, informação classificada, etc., a órgãos estrangeiros, vinte (20) dias depois de ter sido publicado um “Despacho-sentença”, cujos efeitos foram diminutos.
Coincidência? Em política, não as há…
Isabel dos Santos saiu mal na fita, viu a imagem de empresária bem sucedida ser chamuscada internacionalmente, mas, o regime, também sai coberto de lama, nesta guerra em que o vencedor pouco irá conquistar. Terá, na verdade uma vitória de Pirro.
Se vencedores, neste momento, existem e são eles: China, Rússia, EUA, Portugal, FMI, definitivamente, com mais esta contenda viram reforçado o seu papel de influenciar e manietar os políticos angolanos, quer os do poder, como os da oposição.
A maioria dos governantes e a imprensa portuguesa banaliza e ridiculariza a classe política angolana, que orgulhosamente, mantém o espírito de neocolonizado fiel, complexado e bom assimilado, que nada faz sem ir beber à antiga metrópole, quer guardando os biliões roubados, como comprando imóveis e empresas, facilmente, escancaradas, no primeiro revés.
Mais grave ainda, Portugal, principalmente, através dos corredores da Maçonaria, explora bem e de forma eficaz, a inveja congénita de certa elite angolana, como forma de a dividir para melhor reinar, impedindo desta forma um possível crescimento, académico, profissional ou empresarial com destaque, de angolanos, na sociedade lusa.
Dúvidas, para quê, quando os epítetos, Marimbondos, combate à corrupção do clã Dos Santos, mandado de captura internacional, etc., têm paternidade lisboeta.
Assim, na lógica da guerra actual, os que tinham tudo, serão despojados de tudo, não podendo ter a ousadia de qualquer poder, seja ele económico ou político, capaz de ameaçar as novas autoridades, ainda que através de meios lícitos e democráticos.
Isabel vai entregar os milhões a JLo
O “talvez” de Isabel dos Santos a uma eventual candidatura ao cadeirão presidencial, na mais recente entrevista à RTP3, não foi avisado, quando o segundo ano de mandato de João Lourenço conhece muitas dificuldades do ponto de vista económico, logo era preciso alavancar, bem ou mal, o “jus imperium”, ante eventuais ameaças contra o poder instalado.
Em África, onde na maioria dos países, Angola não foge à regra, não existem instituições do Estado fortes, independentes e autónomas, mas chefes fortes, com o poder absoluto do Estado, a falta de contenção verbal de quem não detenha poder político (nem tenha representantes em órgãos vitais) é um suicídio.
É certo que, agora, com essa invasão descarada contra o clã Dos Santos, muitas forças políticas internas e externas se vão unir. Isabel dos Santos vai devolver, muito seguramente, por orientação do pai, que não tinha noção do tamanho do punhal de muitos dos seus camaradas, por ele, também, feitos milionários, sem capacidade de justificação de tal estatuto económico, mais do que o bilião reclamado pelo Executivo de João Lourenço, por isso está a vender muitas das suas acções e participações no exterior.
O pai, muitas vezes impotente, para travar as filhas, tudo está a fazer para explicar a Isabel dos Santos para não só ir responder a Luanda, quando for notificada, como ainda, andar em sentido contrário a uma afronta, contra o presidente João Lourenço tenha ou não razão, e entregar-lhe tudo. Nesta empreitada, um tio paterno e um amigo americano estão a ser chamados para desempenhar papel relevante de convencimento.
Para já, a China está na liderança de ser a nova potência colonizadora, dado o seu poder económico, que muito provavelmente, sairá reforçado com a aquisição das participações de Isabel dos Santos, no EuroBic e na EFACEC, depois de já ter adquirido a totalidade das acções de outro banco de capitais angolano, o Atlântico Europa de Carlos Silva.
Em sentido oposto, a Rússia, ante o controlo dos chineses não descarta a hipótese de oferecer a parte mais fraca, neste conflito assessoria informática de ponta, como outra, pois, enquanto os chineses não estão interessados em confrontos militares, os russos não afastam essa hipótese, uma vez, pretenderem recuperar a hegemonia que já detiveram em África, num passado recente.
Os Estados Unidos vão reforçar o controlo do petróleo e da economia, no geral, através do FMI, bem o seu poder de influência junto dos actores políticos angolanos.
A contenda não será fácil, até mesmo pela movimentação dos exércitos da bajulação, indiferentes ao sofrimento do povo e estagnação da economia.
Independente deste posicionamento das potências mundiais, a família Dos Santos teme que lhe possa acontecer o mesmo que a Nito Alves, quando, em 1977, Agostinho Neto incapaz, também, no segundo ano de mandato, justificar o descalabro económico do seu governo inventou não só o caso Kamanga, na economia, no celebre “Processo 105”, como mais grave, no plano político ergueu a espada do fraccionismo, mandando assassinar cerca de 80 mil militantes do próprio MPLA, tudo para consolidar o seu poder.
“Se dúvidas haviam sobre uma eventual perseguição à nossa família, com a exoneração violenta dos filhos de todos os órgãos públicos, que tiveram o “agremment” dos tribunais, pois o tio, sempre perguntavam aos seus assessores jurídicos e tribunais se era ou não acertada a decisão de nomear um dos filhos. Depois veio a prisão injusta de Zenú, que não desviou nada do Fundo Soberano, pois o dinheiro está todo lá, tanto que implementaram o PIMM, depois acusam-no de responsabilidade no caso dos 500 milhões de dólares, quando ele nunca foi membro do Executivo. Mais tempos depois começaram a orientar para a retirada das fotos do engenheiro Eduardo dos Santos das instituições públicas e partidárias, culminando com a moeda nacional. Ora se a justificativa era de ele ser o maior e único corrupto em Angola, a opção não foi a melhor, pois, Agostinho Neto é considerado o maior assassino, por muitos, mas caricatamente, a sua imagem foi reabilitada pelo tio, que lhe consagrou herói nacional e fundador da Nação, tudo em prol da unidade do MPLA”, disse um sobrinho de Eduardo dos Santos, que “por razões óbvias só posso falar no anonimato, pois a baixa visibilidade da Segurança de Estado anda a vigiar-nos”, alegou.
O triste em todo este cenário é o silêncio da maioria dos dirigentes do MPLA, que actua como gado, que segue o pastor, nem que seja para o abismo, numa clara demonstração de “boçalidade intelectual”, quando devem alertar dos perigos de certas opções, capazes de comprometer o seu próprio futuro, como força política, cada vez mais descaracterizada pela maioria dos cidadãos, que defende, depois da ascensão de João Lourenço, a saída do MPLA do poder, como solução capaz de emprestar uma nova aurora, uma esperança diferente aos sonhos dos autóctones, pois ele é o covil da corrupção em Angola e a sua diminuição não acaba com combates endémicos (contra determinadas pessoas), mas é sistémico (entranhado nas costelas do partido no poder).
Eu que sempre me bati contra Eduardo dos Santos, quando ele tinha todo poder absoluto, assisto hoje de camarote, aos covardes e bajuladores de ontem, transformados em heróis, pontapeando, um homem, sem poder, influência, no chão e doente. Assim é fácil ser Rambo.
A pergunta que não se cala é: Onde andavam? Porque não falavam, sendo maioria (bureau político, comité central, etc.), para o impedir de cometer tantos erros?
Numa análise justa e imparcial se alguém, tem de ser responsabilizado antes de José Eduardo e filhos é essa maioria silenciosa e perniciosa, que se aboletou de tudo ante o sofrimento geral e agora, covardemente, quer transformar Dos Santos como o único responsável pela corrupção, quando ele foi e é o dirigente do MPLA mais honesto, pois a todos untou, com milhões sempre que quisessem os milhões do erário público.